sábado, 19 de junho de 2010

Espaço de fogo e revolta




"Não gosto de falar do meu trabalho como algo artístico. Meu trabalho é minha revolta, meu grito contra a barbárie que o homem pratica."

Assim o polonês Frans Krajcberg definiu numa entrevista seu trabalho deartista plástico e ambientalista. Suas esculturas expressam de forma impactante as mazelas que fazemos com o planeta em que vivemos, principalmente as florestas. Krajcberg possui uma maneira visceral de mostrar o impacto das queimadas, do desmatamento e de outros problemas que assolam a natureza brasileira; traz à tona o papel do homem nessas intervenções. Por essas e outras (que incluem morar desde 1971 numa casa projetada em cima de uma árvore queimada em Nova Viçosa - BA), Krajcberg é um predileto meu desde que pela primeira vez tomei conhecimento de sua obra, num curso de arte contemporânea nos idos de 95.

Maquete da "Casa na Árvore", escultura-obra arquitetónica de Krajcberg feita sobre um tronco em Nova Viçosa, BA.

Krajcberg, além de escultor é fotógrafo. Documentou de forma pungente em livros belos - e tristes - a realidade ecológica da Amazônia e do Pantanal brasileiro, lugares que visitou inúmeras vezes. Também retratou a destruição da Mata Atlântica no Paraná, em São Paulo e mais recentemente da floresta e dos manguezais do sul da Bahia. É conhecido por utilizar madeira queimada, tinturas de árvores, troncos mortos e restos de destruição ambiental como matéria-prima para produzir as esculturas que liberam seu grito de alerta ambiental. Suas obras transpiram o orgânico, o morto-que-devia-estar-vivo, a luta pela sobrevivência. Krajcberg é um cidadão do mundo preocupado com o futuro do planeta e especificamente dos ecossistemas brasileiros, que faz ambientalismo visceral (é membro de ONGs, participa de reuniões e ventos ambientais, ativamente colabora com a comunidade de Nova Viçosa etc.) e demonstra toda sua preocupação da forma que sabe fazer melhor: artisticamente.

Sendo admiradora de seu trabalho e estando mês passado em Curitiba, não poderia portanto deixar de visitar o Espaço Frans Krajcberg, dedicado a 100 obras desse artista e ambientalista tão importante para o perfil do Brasil. O Espaço fica ao lado do prédio principal do Jardim Botânico e é uma visita rápida que merece ser feita.

Construído por Jaime Lerner (onde está wally?) para abrigar as 100 obras que Krajcberg doou à Prefeitura de Curitiba, o Espaço circunda a estufa principal do Jardim Botânico como se fosse uma grande minhoca de vidro - arejar o solo do Jardim, será essa a mensagem subliminar desse projeto? O local é abafado feito estufa - outra mensagem subliminar? (Faria a ambientação parte do significado da arte? ;) )

Dentro do prédio, grupos de esculturas, cada uma com seu "tema". Em menos de meia hora você visita o Espaço. São minutos impactantes, entretanto, de arte que te faz pensar, refletir, engolir seco a angústia. Os troncos queimados e cipós pendurados, o vermelho-fogo com que tinge suas esculturas de labaredas... tudo é intenso. Krajcberg mostra para todos que passam por seu espaço em Curitiba seu grito de revolta permanente contra o fogo destruidor, essencial e muito significativo no grande abafo do mundo em que vivemos. Imperdível.

Tudo de bom sempre.

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- Krajcberg está com uma exposição na Oca, no Parque Ibirapuera, até dia 14/dezembro, chamada "Frans Krajcberg: Natura". A exposição faz parte do"MAM na Oca", exposição que celebra os 60 anos do Museu. Paulistanos, não percam!

- Esse post é dedicado ao meu amigo Gabriel, apreciador de artes e genes que hoje comemora mais um ano de vida. Feliz aniversário!! :)

14.Julho.08

Duas dicas oceânicas luciamallísticas*

As duas dicas vão para quem está pelos lados da costa leste americana (Boston e Washington DC, especificamente). Eu estou comentando porque têm tudo a ver com minha paixão pelo mar - e se eu estivesse por lá iria nas duas sem pensar muito! :)

- Em Washington:

O Museu Nacional de História Natural Smithsonian está, desde o dia 11 de junho, com uma exposição gratuita de fotos chamada "Ocean Views". Algumas imagens maravilhosas podem ser vistas na página do museu, mas acho que a dica é, se você tiver oportunidade, vê-las no tamanho enorme em que estão expostas. A exposição teve uma boa crítica no Washington Post, que revela que a exposição foi idealizada para inaugurar o Ocean Hall do museu. Excelente começo!

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